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Casamento

C

Estava quase na hora e as coisas esperavam prontas enquanto os fotógrafos clicaram os detalhes. Era muita coisinha e tudo tinha um porquê. Essa festa é planejada, silenciosamente, há mais de três anos. Desde o dia que eles vieram aqui pela primeira vez.

Ele não sabe disso e ela vai contar logo hoje: quando ela pisou aqui ela chorou. Eles estavam juntos há bem pouco tempo e ela teve que disfarçar. Ela não estava esperando aquela sensação, nem um pouco. Foi ver as lanternas e a igrejinha antiga que o coração apertou. Ele andava entre as árvores e ela achou melhor ficar pra trás. Chorando, logo aquela hora? Que louca, né?

Foi naquele dia que ela começou a fazer contas. A igrejinha era minúscula e a família dos dois enorme. O espaço custava o preço da festa toda. Eles não estavam juntos nem há seis meses. Tentou esquecer. Tentou parar de pensar tanto na igrejinha de fazenda com as lanternas dentro do seu lugar preferido no mundo.

E esse se tornou o lugar preferido do mundo dele também.

O pai, fã do genro, falou que pagava. Isso foi antes, anos antes de parecer que ia acontecer. Ela não tinha muita pressa não, é verdade, mas ela pensava. Pensou em tudo o que está aqui hoje: As lanternas que continuam no lugar. A igrejinha que virou altar, para tudo acontecer embaixo das árvores e de dia, como ela sempre quis.

Os bancos onde os convidados se sentarão são azuis, bem forte. A musica que vai tocar, ele mostrou no carro nas primeira vez que ele a buscou em casa. Ele nem se lembra disso, é surpresa.

A família que dizia não achar de bom tom festas em outra cidade, veio toda de São Paulo sem reclamar. Isso tudo, na verdade, é feito especial para outra mineirinha: a avó na cadeira de rodas está agora de bobe no cabelo e é a mais feliz da turma.

Levou tempo para o hotel ficar pronto. Naquele primeiro dia falaram que já estava quase – era pra copa, lembra? – e demorou muito mais. Ela brincava que ele não precisava se preocupar enquanto a obra não terminasse, que era pra abrigar a turma toda. Ele não queria pensar muito no assunto, é verdade, e esse prazo serviu para aliviar a situação. Ela achava graça.

Os carrinhos de golfe esperavam enfileirados, para levar tudo mundo para a festa. O salão dava para a vista mais linda do lugar. Nas panelas, um bem-bolado de comida mineira com árabe para ficar tudo em casa.

Ela queria assim, em casa. Não é pra pompa, não. Logo ela, que sempre foi tão dada a roupas e marcas, escolheu justo o vestido mais simples. As amigas usavam a mesma cor – tem quem diga que é brega, mas ela nem ligava. Todas se reencontraram, como era raro acontecer.

Estava quase para começar, quando cada detalhe desse fim de semana começou a se apagar: as lanternas sumiram, a igreja esfarelou-se. Os bancos perderam a cor. Os carrinhos, um a um, foram embora. O hotel virou canteiro de obras. As pessoas se dispersaram. A comida perdeu o lado árabe da história. O vestido é um rolo de tecido em cima de uma mesa de ateliê. O lugar continua sendo o lugar preferido do mundo. Só que só dela.

Isso tudo sempre foi só dela.

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desfilles

I got fire in my brain. In my heart and veins. In between my legs.
(And now I'm back to writing.)

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By desfilles

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