um dos passivos mais palpáveis de um relacionamento abusivo é uma auto estima minguada, quase inexistente. passei meses arrependida por características centrais da minha personalidade, por coisas ditas, por coisas não ditas, por tantas coisas sofridas.
por que eu sou assim, meu deus?
o pós rompimento foi arrastado e muito, muito doloroso. oscilei entre esperança e desesperança, entre desespero e resignação.
mesmo assim, aos poucos comecei a encontrar um amor por mim que há quase um ano estava sumido.
no começo os sinais estavam aparecendo justamente quando nos encontrávamos:
os meus amigos queridos, bêbados, falando pra ele o quanto ele achou a mulher mais incrível – contando histórias lindas do nosso passado e tudo que os ensinei.
o quanto me encantei com a minha alegria over and over. a minha alegria dá umas boas sumidas, mas ela é tão linda.
os abraços que troquei com as minhas amigas de toda uma vida.
o quanto produzi e fiz diferença em poucos meses de trabalho.
a sorte de ter minha família aqui, tão perto.
reconstruí um caminho novo numa cidade antiga.
como, pardon my french, tirei uma mudança inteira do cu e fui la e administrei não 1, mas 2 apartamentos.
o quanto fiz as pazes com o maior sonho da minha vida, que é ser mãe (mesmo que isso tenha servido de material para manipulação pelo ex – maybe I’ll get to that at some point)
as pessoas. as antigas pessoas. as novas pessoas. quanta gente querida que me ama e que eu amo tanto, que sorte.
o quanto tenho me achado linda. e sexy – não importa os quilos, as celulites. olha essa mulher, minha gente. sorte a minha que a casa nova tem tanto espelho e uma netflix que toca o show da beyoncé.
e, acima de tudo, a minha capacidade de amar. meu deus, que talento eu tenho pra amar.
durante esses meses eu amei PROFUNDAMENTE meu ex namorado. por grande parcela desse período, profundamente e gratuitamente. sem cobrança, sem espera, sem nada. só pelo high de amar, de reconhecer em mim essa potência, de saber reviver as memórias boas e também porque tudo o que eu sofri na vida não me tirou essa habilidade.
isso é bonito pra caralho e eu morro de orgulho.
depois de tudo, da papagaiada toda, você pode perguntar se eu me arrependo.
e eu te digo: nem um pouco. me arrependo da auto estima minada enquanto estivemos juntos, por questionar a minha sanidade (COMPLETAMENTE afirmada nos finalmentes) e por sofrer. o amor, pra falar a verdade, é o meu maior legado e, por isso mesmo, a minha maior vingança.
é o que fica na minha vida e sai da vida dele. afinal, é o amor que me define e eu, puf, fui embora.