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casa

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a gente acha que viveu de tudo.

ok, nem tudo. não envelheceu, não formou uma família, nem passou por verdadeiras tragédias. não construiu nada grande, nem experimentou realidades muito diferentes.

mas de amor, pelo menos, eu achava que tinha vivido.

nada.

eu comecei a escrever esse texto deitada no seu ombro, há mais de uma semana. eu nunca escrevo quando estou feliz, em geral, mas talvez eu nunca tenha estado tão feliz. um estado que traz o mesmo nó na garganta da angústia, uma sensibilidade constante, um clima contemplativo que permanece. eu estou sempre à flor da pele. tudo faz sentido e tenho tanto pra dizer.

naquele momento, da multidão de pensamentos que me chegavam, o maior deles era: eu preciso lembrar de tudo.

da música que tocava. da luz do poste iluminando a varanda. do barulho do aquecedor. e de você, falando uma coisa qualquer que, olha só, eu me esforcei tanto para lembrar que acabou esmaecida no tempo. era algo engraçado, caberia bem aqui.

preciso lembrar que de repente, comecei a imaginar os nossos votos, caso nos casássemos. e decidi que seria muito melhor fazê-los de verdade, antes, sozinhos. aqui, nesse mundo só nosso que já existe tão enorme.

percebi que você tem se tornado, muito rápido, a minha casa. que eu me pego te vendo como minha família. pensando em pontos espalhados no futuro e você está lá, em todos eles. que eu tenho como prioridade constante, muito maior que antes, cuidar do que estamos construindo. fazer o meu melhor, ser o meu melhor. preservar.

me sinto muito cuidada, sabe. o tempo todo.

eu tenho segurado o choro, muito. tudo me comove. saber que você existe, saber que isso existe. não há motivos para interromper qualquer um dos nossos momentos com um choro desse, mas nada me tira esse aperto. muito poucas vezes na minha vida eu quis chorar de alegria e, agora, é o tempo todo.

tem um pouco de incredulidade também, é verdade: como pode isso existir? será que eu quero tanto que isso exista que eu inventei todas essas sensações? será que eu consigo me enganar over and over, e cada vez com maior intensidade?

não, é real.

é real e cresce. o tempo todo.

talvez, por isso, nunca tenha dado certo, de verdade. talvez seja, isso, the real thing. talvez é justo isso que move as pessoas a fazer o que todo o resto resiste, e não consegue.

ao mesmo tempo, dentro de todos esses meus planos, me pego no esforço de racionalizar cada detalhe. no medo de tomar grandes decisões enquanto estou – e estou – tão apaixonada. eu vejo centenas de motivos muito reais para acreditar que você seja a pessoa da minha vida mas eu ainda tenho medo de estar cega.

talvez o amor seja mesmo essas duas coisas combinadas. eu só não quero que ele esvazie quando a paixão não for mais a mesma – porque, convenhamos, se eu quero uma vida com você, eu sei que não vai ser essa paixão louca para sempre.

e tudo bem? pra mim, tudo, e pra você?

eu quero construir um lugar em que a gente possa, cada vez mais, falar dessas coisas. do que eu imagino. do que você quer. do que a gente espera.

ser um time tão incrível como estamos sendo até agora.

esse turbilhão começou em uma música, o choro eu segurei na seguinte. na terceira, a paixão fez a sua parte.

mas as questões eu trago pela vida. e que vida boa é ter você.

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desfilles

I got fire in my brain. In my heart and veins. In between my legs.
(And now I'm back to writing.)

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By desfilles

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