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maybe never

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numa tarde em Belo Horizonte, lá naquele 2015, marquei no app um date bem aleatório naquela mesma noite vazia. o moço era de são paulo, estava em bh a trabalho, e sugeriu um barzinho bem movimentado em que as mesas se espalham pela calçada. eu não frequento nunca esse lugar e passava por aquela esquina sempre mas, dessa vez, eu parei o carro e peguei uma mesa.

era básico sempre combinar de encontrar já no lugar e fiquei, sentada, mexendo no celular enquanto esperava. a bateria estava em 30% e eu mandei uma mensagem avisando, com medo de acabar. passou 25%, passou o aviso de 20%, passou uma hora.

nada.

o moço nunca respondeu e eu, me sentindo bem estúpida, segui com a vida. a facilidade foi grande, mesmo a minha auto estima estando bem merda. hoje conto como uma história curiosa dessa vida de aplicativos.

em 2012, julho, embarquei com namorado – de poucos meses – de surpresa pra paris. na última noite da viagem, já morta de andar o dia todo, me arrastei com ele para um bar no canal st. martin encontrar um tal primo expatriado na cidade. fomos.

o primo, mermão, esse primo. pensei cá que peguei o primo errado mas estava apaixonada, acontece. uns 60 dias depois o namorado evaporou e no ano seguinte, na minha volta pra paris, o primo fez porque fez que queria almoçar junto.

uma da tarde de terça feira, região da champs elisée, aquele bistrô lotadão e os garçons checando se você acabou de comer, porque né, levanta aí que tem gente esperando. papo bom, deu a hora, que pena, até mais. já em são paulo, deitadinha na minha cama, o moço emenda aqueles papos de whatsapp ~comoassimqueagentenaotevetempotavadoidopraficarcomvocêyadayada~

entra mais um namorado, passam-se 2 anos. eu emendo o término em paris de novo e o primeiro a saber da reserva da passagem é ele, o primo.

toda uma logística combinada. linhas de metrô memorizadas para que eu passasse o dia com a amiga, as noites com o primo. o próprio garantiu uma festa horas depois da nossa chegada, em rooftop hipster no 4eme. frio na barriga. expectativa.

nada.

primo sumiu pela festa, deixou a gente com os amigos (dele), fingiu contusão e se mandou. nos outros dias também não vi nem cheiro do cidadão.

já em são paulo eu recebo aquelas mensagens bem desajeitadas de ~vejabempenseieviquenaoeracerto~. até hoje não sei o motivo exato e toda vez que o primo aparece na minha timeline eu penso, esse aí nunca.

quando estava planejando me casar eu tinha essa lista imaginária desse aí nunca. ela começa com o menino da terceira série que eu amei perdidamente – como pode amar uma pré-adolescente, claro – até a quinta. tem o primo. muitos outros foram tirados da lista por motivos de tenho que tirar da lista (hello, paddy), mas esses nunca saíram e nunca sairão.

na lista esse aí nunca, coluna app, o menino do bolo em bh não entrou. quem entrou foi outro moço que apareceu naquela mesma época esquisita em 2015. um moço que ficava entre bh e sp e falava muito do cachorro. só que de repente, não lembro exatamente, parou de falar.

(pausa para pesquisa dessa conversa no tinder. não achei registros, merda.)

ele era amigo dos amigos do ex pelo qual eu tava sofrendo, ele tava fazendo um projeto com uma marca da empresa pra qual eu trabalhava, ele era interessante e, antes do silêncio, eu adicionei nas redes sociais. mas uma coisa que ele não era é interessado por mim, aparentemente. eu tava num momento muito não pertenço a essa galera e ele era o carimbo final de que, realmente, não.

nos dois anos seguintes, todas as vezes que ele aparecia na minha timeline – e, meu deus, eram muitas – eu pensava: esse aí nunca. mas tudo bem, sabe. eu estava apaixonada, eu tinha achado O cara e ok esses fundos brancos rabiscados subindo no meu feed. mas olha como ele parece legal né. mas não é pra você, lorena. segue o baile.

corta pra 2017, julho. o namoro que ia ser casamento acabou há meses. eu não queria baixar esses apps de novo – veja bem, eu já vivi tudo imaginável nessa plataforma – mas eu tinha que ser realista. fui de mansinho. baixei. espiei quase que pela fresta.

no feed, o fundo branco do moço que falava do cachorro. com o cachorro.

ok. dá um like aí, vai ser nada não. imagina. meu deus. deu match. que que eu falo?

vamos lá: como tá o cão? daí foi meio automático pra um papo que atravessava manhã e tarde e noite e piadas e madrugadas, mensagens aleatórias piscando e pedidos de date. na primeira noite eu não poderia, na segunda – em que eu passei O DIA INTEIRO numa expectativa (desculpe o trocadilho) do cão – o fofo mandou à tarde um vídeo de si na cama falando que tava cansado e pedindo um raincheck. daí em diante eu, junkie que só, tava bem hooked (desculpaê expressões em inglês mas, veja bem), bem viciadona na onda do pisca pisca de mensagens e piadas e aquele tralala todo. mas ele nunca mais mencionou me chamar pra sair.

mano, aí que entra a ansiedade. e mano, como eu não sei administrar. a gente na segunda frase trocada já se deu todos os diagnósticos psiquiátricos e talvez a ironia esteja bem aí. estou me adiantando.

indiretas não funcionavam, as vezes rolavam umas sumidas (dele) seguida de uma chuva de mensagens (dele tb). a gente desenvolveu uma conversa paralela entre os cães com todo um dialeto próprio, pura fofura. no domingo, fui pro parque com a leia, joguei algumas diretas e lá ele apareceu. resultado muito melhor do que esperado, sabe.

eu podia falar que aí ele era tosco ou diferente ou sei lá o que, mas ele era igual ao que eu esperava. nem mais, nem menos. meio desajeitado (como eu esperava). com uma coisa que me deixou confortável, me deixou num lugar bom. eu não estava intimidada ou nervosa ou me perguntando nada. era eu, ali. e quantas vezes a gente pode dizer que a gente de fato está 100% em algum lugar?

me surpreendeu um pouco os olhos que encheram de agua por trás dos óculos de aro grosso, enquanto ele contava uma historia triste. já anoitecia e já estava bem escuro – nós sentados na grama e a Leia rolando – e eu encarei aquele olho transbordando e ele não desviou, não se constrangeu, nada. era um olho marejado depois de uma historia triste e tudo bem.

(quando a gente, tempos depois, conta alguma história de pessoas que se conheceram a gente sabe marcar o segundo e apontar: foi ali. o segundo foi esse.)

fomos andando até o carro, ele tropeçou na Leia, ela mordeu os cadarços. despedimos com um abraço e só. saí dirigindo  – e cantando – e fui jantar com o amigo que um dia quase foi namorado.

(…)

o texto na caixa de rascunho ficou pela metade, mas o primeiro parágrafo já conta a história inteira. o que aconteceu depois, na verdade, nem interessa mais. é vírgula, tropeço, um passatempo qualquer. passaram-se uns dias e a única coisa que não mudou é que, esse aí, nunca.

 

 

 

 

 

 

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desfilles

I got fire in my brain. In my heart and veins. In between my legs.
(And now I'm back to writing.)

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