a história de como nos conhecemos é uma dança lapidada ao longo desse ano e meio desde aquele novembro.
eu conto como tinha apagado o app, e reinstalado no meio do tédio de uma espera por um avião. ele conta o quanto foi difícil conseguir uma resposta minha. nós dois repetimos simultaneamente todas as coincidências e todos os quase que resultaram no dia em que nunca mais nos separamos. rimos da mentira que ele inventou – e que inventou a gente. todo mundo está cansado de ouvir (e eu nunca estou cansada de contar).
(como nos conhecemos?)
de todos esses detalhes, uma coisinha eu nunca revelei em voz alta, nem mesmo para ele.
o segredo – fisicamente documentado – ficou guardada no fundo de uma pasta, junto com cartões de aniversário e outros papéis, esperando o momento – o mais especial de todos – para ser mostrado para todo mundo. a proeza, quase impossível para mim, atravessou meses e mudanças e momentos de confissões. nunca foi esquecida, nunca. protegi como pude: pela surpresa, pelo medo do azar.
se a gente não pode contar o desejo que faz ao soprar as velas do aniversário, que dirá isso.
por todo esse tempo esqueci ou ignorei a minha completa inaptidão para profecias. cada parte de mim acreditou naquele pedaço de papel escondido. ele foi meu foco, meu objetivo. tudo que passou pelo meu caminho desde então nunca embaçou as letras que formavam aquela certeza.
abri a porta do apartamento minúsculo às 5 da manhã, rasguei um pedacinho do envelope da conta de telefone e rabisquei o que eu não precisava de mais nenhum segundo para saber. subi na cadeira para alcançar a parte mais alta do armário de documentos. dormi pensando no momento em que leria o papel amassado, revelando a supresa.
faltou o dia que nunca irá acontecer para eu contar mais uma vez a história do dia que quase não existiu.
