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karol

k

mais tarde, bem mais tarde, eu perguntei pra ele: – como foi que a gente começou a conversar?

ele riu e falou: – você não lembra?

– não, quando eu vi a gente tava lá.

– eu te vi, achei que você estava com aquele grupo. estiquei a mão, me apresentei. você falou oi.

sabe, era tudo mentira. eu lembro de cada segundo.

ir pra balada sozinha foi uma experiência bem incrível. entrar no taxi, nervosa, enfrentar a fila prestando atenção em todas as pessoas. o cara da porta pergunta: -how many? -just me. -you look fabulous by the way. have fun.

e você entra no elevador que te joga na pista de dança mais animada das galáxias.

passei bom tempo andando pra lá e pra cá. peguei um drink, fui pra pista. o tal dj estrelado já tava pronto pra entrar e a galera esperava espremida, como num show mesmo. um menino ruivo lindo do meu lado, o próprio príncipe harry, me pergunta: – você já viu ele tocar? -não. -eu vi, em seoul, he’s awesome.

e as pessoas espremidas pulam. muito. o menino ruivo pula. a música é incrível. alguém derruba metade do meu drink e a fumaça cega a multidão. eu fico três dias com a música que tocou na cabeça e nenhum shazam me ajuda a descobrir o nome. eu viro pro príncipe harry e falo: – i’m getting a refil, have fun.

no bar um casal tenta falar comigo. a menina é bem ok, o cara é péssimo. eu fico na dúvida se volto pra pista e derrubo o terceiro drink de 20 dólares, a música maravilhosa bombando, o príncipe harry dançando loucamente. vou dar uma volta. eu já tô meio tipsy, eu já tô achando tudo lindo. eu vejo o cara maravilhosamente hot encostado no corredor.

eu sou bem ruim em abordar as pessoas. eu sou péssima em encarar as pessoas. quando eu tô meio bêbada isso me diverte, eu brinco de fazer as coisas do jeito mais ridículo possível. foi o que eu fiz: encarei da testa ao sapato and back, 3,80m de superfície e ainda dei risada. dei mais dois passos e ele esticou a mão. oi.

foi assim que o menino polonês como nome de menina – 36 anos, na austrália há 10 – entrou na história.

lembro de debater uma ou duas vezes na minha cabeça se voltava pra encontrar o menino ruivo e se isso era trocar o certo pelo duvidoso. nos primeiros minutos eu fui bem pragmática. esse era só mais um moço gato no caminho – naquele momento menos interessante do que o que pulava na pista. não sei bem quando isso mudou e talvez isso não tenha mudado tanto até o dia seguinte, mas eu fiquei. a gente teve uma conversa meio vazia – nem a música nem o sotaque ajudaram – e eu puxei o pobre coitado para o elevador e para o cassino.

eu tava bem determinada. era provavelmente minha última noite em vegas e eu encasquetei que levaria o cidadão pra casa. não sei bem que hora essa decisão foi tomada: se foi quando ele me beijou, quando minha bochecha começou a doer de tanto sorrir ou quando ele sussurrou alguma bobagem no meu ouvido, mas o fato é que eu praticamente gritava no meio da balada: we gotta go.

and so we went.

veja bem, esse é o primeiro cara no ano que não passa por um app. todo o processo foi ao vivo, eu nem lembro mais a última vez que isso aconteceu na minha vida. eu sabia que tinha ali na minha mão uma boa história pra contar – nada mais que isso – e essa era a melhor perspectiva que eu tinha em tempos.

já fazia mais de uma semana que o moço polonês com nome de menina estava em vegas. hospedado na casa de amigos, ele ficaria mais uma. é bastante tempo. o quarto dele parecia o lugar onde alguém está de fato morando. em cima da mesa, carteirinha da academia, uma caixa de email aberta na tela do computador, post its. num deles: get an agent in l.a. fiz piada.

o moço me sentou na cadeira da escrivaninha, sentou na cama, olhou nos meu olhos o mais fundo que alguém já olhou. – esse é o monologo que eu preparei. é do bastardos inglórios, o personagem tem um sotaque parecido com o meu.

e começou a falar o monólogo sem tirar o olho de mim.

eu dei mais risada. respondi algumas frases. tampei a boca. eu não sei o quanto eu tava bêbada naquele ponto mas eu comecei a ficar hipnotizada: eu nunca vi. um olho. tao azul. na minha vida. turquesa. alguém tira foto disso. por favor.

beleza é uma coisa poderosa. eu fico com caras bem bonitos, eu acho beleza em caras não tão lindos, a vida segue bem dessa forma. mas é raro eu me deparar com alguém tão esteticamente perfeito – alguém que poderia facilmente viver disso. ele não parecia ser muito brilhante – o que é uma coisa muito mais comum pros meus padrões – mas ele era um cara lindo que não agia como se parecesse ser lindo – isso sim é ainda mais raro.

encontro no banheiro o frasco do perfume que era um dos motivos pelos quais o polonês com nome de menina me parecia tão familiar, confortável até. apertei o spray no ar e fiquei um tempo de olho fechado no meio da nuvem de allure – talvez eu realmente estivesse bêbada. se beleza é uma coisa poderosa, cheiro é outra.

no brasil já era de manhã, um dia normal de trabalho. enquanto a gente se despedia na porta, eu mandava uma foto para a amiga pelo whatsapp. o moço pediu minhas redes sociais e engatou um papo desconfortável: we’ll keep in touch. andei cambaleante pelo condomínio, rindo de boba, uma euforia torpe e a certeza de que nunca mais veria karol na minha vida. valeu a pena.

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desfilles

I got fire in my brain. In my heart and veins. In between my legs.
(And now I'm back to writing.)

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By desfilles

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