debati o dia inteiro se saía ou não com o cara tatuado, recomendação da amiga. foi um dia intenso, teve choro, teve briga e teve eu querendo me esconder o quanto antes debaixo do cobertor.
recolhida esperando o dia acabar, enquanto assistia a uma séria qualquer, só conseguia pensar, e se eu tivesse ido?
seria uma perda de tempo, certamente. a amiga falou que ele mal conversa.
só que por algum motivo, na minha cabeça, eu pensei como seria se fosse bom.
ele me levaria num bar perto da roosevelt, uma casa dos anos 20 com o chão hipnotizante, tetos rebuscados, uma lindeza. tocaria jazz: um baixo, bateria, piano e um moço que canta night and day olhando para você.
a conversa fluiria fácil, eu ficaria pensando a noite toda como sim é possível desenvolver social skills a essa altura. a gente falaria de coisas leves e coisas pesadas, ele contaria da perda do pai e mostraria uma tatuagem do humphrey bogart – how cool é uma tatuagem do humphrey bogart.
eu ficaria levemente tipsy – pela atmosfera, a cerveja, a música, o cara interessante na minha frente – e ele me beijaria a caminho do bar.
eu andaria de mãos dadas pelo centro antigo, riria de uma ou duas travestis cambaleantes e descobriria que o tal apartamento do qual eu já ouço falar há bons 3 anos é bem diferente na minha cabeça.
já seria de madrugada e eu não estaria na minha cama checando o celular.
eu faria comentários sobre como as pessoas organizam estantes para se mostrar pra outras pessoas – it’s like you on the shelf – e ele colocaria um esquete do monty python para eu assistir porque lá pelas tantas eu confessei que quase nunca vi nada de monty phyton.
no meio do beijo ele diria que percebeu que os botões do meu vestido são todos falsos. no fim, enquanto eu busco as minhas roupas, ele pediria para eu ficar e dormir por ali mesmo.
definitivamente eu voltaria para casa mandando mensagens engraçadas para amigas, algo como “que diferença é um homem que sabe o que faz”.
chego em casa com um cheiro impregnado na pele. dou de cara com a realidade: eu, dormindo sozinha, celular na mão, tv ligada, sonhando com o que poderia ter sido.