Há uns dez anos um dos desfiles Ronaldo Fraga foi batizado de há quantas noites eu não durmo. A história, contada em figurino bem anos 40 e muitas camisolas, era de mulheres traídas esperando o respectivo homem chegar em casa.
Acho que já dá pra saber onde eu vou com esse exemplo.
Mais cedo, conversando com a amiga, eu confessei: vai ser muito estranho ter alguém de novo.
Ela respondeu: Eu acho que a gente nunca mais volta ao normal, é caco pra todo lado e toda hora você pisa em um. Fica comparando, pensando o que é norma, tentando achar padrões, sinais de que está errado.
Sou eu.
Faço as contas de quantas noites vou encarar o teto em perguntas infinitas, em sinais que não cheiram bem, pulando de aplicativo em aplicativo buscando rastros, horários, silêncios. São mais cinco noites até que eu saiba. Eu acho que não vou ter tranquilidade nunca.
Não que queira dizer nada. Eu sempre fui muito ciumenta, mas nunca fui disso. Dormia tranquila até nos momentos mais tensos que antecederam meu ultimo namoro – e o fim dele. Nunca monitorei horários: com quem ele tanto fala até duas da manhã?
Da minha paixão o quanto menos eu falar, melhor. Ela me assusta pelo tamanho, mas não me aprisiona. Eu sinto que eu posso sair a qualquer minuto, eu acho muitas vezes que devo. Meu sono tem pedido com frequência.
Ele perguntou: você dorme rápido quando está comigo? Esses dias eu não durmo nunca. Estou tão tomada na necessidade de uma decisão que qualquer cochilo é um pesadelo em que eu invariavelmente acabo abandonada, descobrindo que ele está entretido com alguém pelo caminho.
Preciso correr, mas espero. Acredito que possa mudar, talvez. Magicamente mudar, como? Me reconheço em histórias alheias que a moça conta e eu fico calada, pensando que boba, olha só quantos sinais.
Nisso minha vida rasteja, acesa, em horários: last online at 12:31. Last seen at 01:54.
Nada parece mudar. O mundo lá fora parece maior do que nunca. Quem sou eu pra lutar contra o mundo?
Me recolho.