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Prova

P

Do que é feita a paixão?

Eu vivo, o tempo todo, a vontade instantânea de falar com ele. Revisito fotos. Me embrulho em sonhos que fariam Freud esconder debaixo do divã, releio conversas ao som das músicas que ele gritou – no desafinado mais apaixonante do mundo – deitado na minha cama. Entre uma dentada no hambúrguer e outra eu tento disfarçar a cara de boba hipnotizada pela boca, e pelos olhos, e pela boca. 

(Não eram os olhos mais verdes da minha vida, afinal.)

Tento o tempo todo dar justificativa: 

– olha que lindo ele é.

– e assustadoramente inteligente, acho que é isso.

Não é. Não é por ele ser minha curadoria de conteúdo, minha Inesplorato particular, que eu me apaixonei. Enumero uma boa dúzia de moços lindos e bizarramente inteligentes que não encontraram o caminho do nó no meu diafragma – e jamais encontrariam.

Não é a confiança – por mais afrodisíaca que me pareça – que tira o meu sono. Não é a boca, não são os olhos. Não é nada disso.

Na mesma medida enumero defeitos irritantes, alguns beirando o deal breaker, maiores do que jamais encontrei na legião de moços lindos e inteligentes que nunca me interessaram. Seriam os defeitos? 

Será a combinação de coisas encantadoras com esse feeling constante de que tô entrando em enrascada? Que é problema, que é para eu fugir?

Ontem, por um segundo, eu tive certeza de que acabou. Não teria mais música desafinada, nem essa de disfarçar a cara de boba enquanto administro um hambúrguer. Nem uma conversa, nem um texto, nem um boa noite.

Mas estava tudo bem.

I am a sucker for falling in love. Estar apaixonada escondeu o maior dos meus problemas desses tempos, me deu alegria e motivos. 

Só não calou a saudade de ver o outro também se encantando e perdendo a capacidade de manusear um hamburguer. Essa eu ainda sinto. A correspondência permanece como o holy grail desse jogo.

Ainda não ganhei a liberdade de cantar desafinada e falar sem medo. De ser a criatura engraçada que sou quando estou feliz. Quando sou amada.

Por enquanto é só vontade.

Vivo de paixão. Não reclamo. É muito mais do que acreditei até outro dia. Posso procurar motivos, mas ela é palpável, latente.

A paixão existe o tempo inteiro.

Ele jogou o desafio: – ó, eu achei que ia dar, mas eu não consegui me deixar levar de vez. Faz sua parte, se coloca aí. Se mostra, me encanta, eu sei que você consegue.

Tenho dúvidas. Muitas. Me acostumei com coisas mais naturais, mais fáceis. Me convenci que essas sim são as coisas certas. Talvez agora eu precise mais saber que consigo sentir do que ter que me provar. Sentir é mais importante. Era impossível.

Em todos esses posts, todos esses meses, fica claro que o encanto alheio vem na maior facilidade, sem valor nenhum até. Se você não conseguiu, não era pra ser. Talvez não seja por mim, seja por você.

Se você não me acha mais tão especial, que coisa. Eu, no meu encanto, encontrei a coisa mais especial em mim de todas. O que já estava morto, o que era impossível: depois disso tudo eu ainda consegui produzir esse tanto de paixão.

(I’m fucking awesome, after all.)

About the author

desfilles

I got fire in my brain. In my heart and veins. In between my legs.
(And now I'm back to writing.)

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By desfilles

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