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eu so conseguia pensar no que me levou a essa situação.

poucas horas antes, numa conversa de telefone longa e infeliz – que eu, linda, insisti em ter – ele falou algumas coisas:

– o carinho que eu tenho por você é como se fosse por uma irmã ou filha.

– o que a gente teve nunca foi sério.

– o problema não é o namoro, é você.

o choro de indignação – única coisa que sobrou quando ele desligou o telefone – tinha que parar. a sensação de ser o problema, a ex-namorada assexuada (irmã ou filha) que perdeu quase dois anos num namoro que nunca foi sério ia acabar me matando. eu precisava sair.

peguei o celular e mandei a mensagem: oi. vamos tomar uma?

o cara em questão já era conhecido de outros tempos. fotógrafo, encasquetou comigo justo na época que eu já saía com o ex, mas em que ele ainda não queria se comprometer. o cara me levava pra beber e falava que queria namorar comigo. falava que eu era linda. falava que eu era demais. falava que eu era magra. falava tudo o que o então futuro namorado não falava – e nunca falou.

depois que o namoro foi oficializado o cara ainda aparecia. me convenceu fazer umas fotos, ligou algumas vezes. a vida correu.

meu namoro acabou.

o cara topou o convite. me buscou em casa, me levou num bar legal. eu fiquei meio aérea, me esforçando a prestar atenção em qualquer assunto, me esforçando para ter uma vida social. ele pegou minha mão, eu esquivei. ele insistiu. eu desisti. em 40 minutos eu fazia parte do casal se pegando loucamente no canto do bar. era pra isso que eu tinha saído, afinal.

eu saí pra ser carregada no colo, rua acima até o carro. para rir. pra ser desejada e agarrada dentro de uma picape. pra acabar num quarto onde eu nunca pisei desde 2007.

de fato tudo correu exatamente como planejado, menos a parte de ter que disfarçar o choro enquanto estou na cama com um sujeito em cima de mim.

a que ponto chegamos.

fujo pro banheiro e não consigo nem encontrar o interruptor. enquanto uso o celular como lanterna, digito uma mensagem para a amiga para quem eu já tinha escrito mais cedo (- to num date e quase chorando. merda voadora.) com o update da situação (-chorei durante. cadê dignidade. cabô.).

soluço tão alto dentro do breu do banheiro que quando eu saio o cara tem certeza que eu estava era passando mal e tinha vomitado.

eu preferia, viu. a realidade, em poucos dias, me levou de pessoa feliz para a menina que dá para um estranho tentando fazer de conta que é o ex.

eu só venço esse término, diz aí.

no fim das contas, o cara acabou me consolando. tentou retomar a situação anterior sim, mas quando viu que o clima tinha morrido, soltou pérolas do tipo: olha só o que esse seu namorado tinha, não consigo imaginar alguém abrir mão disso.

para mim, sinceramente, essa é a parte mais deprimente da história. eu repetia: você não sabe, você não me conhece.

um dia meu ex foi esse cara. um dia ele me conheceu de verdade e eu perdi toda a graça.

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desfilles

I got fire in my brain. In my heart and veins. In between my legs.
(And now I'm back to writing.)

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By desfilles

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