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the muse

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eu sabia que isso ia acontecer. tentei escrever o mais rápido possível, num medo das palavras evaporarem com as memórias ou se transmutarem com meu humor. era certo que seu retrato mudaria se não fosse feito a tempo. registrei um esboço, deixei muitos buracos e me acomodei. a indisciplina e a vida fizeram sua parte em não me deixar colorir as linhas embaçadas.

passei a sonhar com o miolo que é fumaça.

li muito. tive covid. mandei algumas mensagens: é menos que sempre, mas tudo parece muito. não desabei, mal tropecei, consegui chorar só hoje pela manhã, ao ver os dois sinais azuis e resposta em cor nenhuma que exista.

/ghosting.

a rejeição, fato inédito, me apresenta um(a) eu que não deixo de amar. me confronta com um outro que é fraco, pequeno. eu queria e ainda vou falar desse amor na tentativa de entender porque ele nasce ali e não em qualquer outro, nasce de um olhar, um tom de voz, uma casca que cobriu a fraqueza de quem viria a se esconder. é um amor, em sua medida, real, e na mesma medida eu sabia que tinha um objeto tão inexato como as linhas que até hoje esbocei.

fraco.

acomodado.

covarde.

o meu amor é tudo, menos isso. mas como, então?

tento desenrolar um raciocínio com começou a aparecer ali mesmo, naqueles tardes em que atravessei firenze em todas as direções. de lá pra cá, a teoria tomou corpo, faz ainda mais sentido.

o atropelo que eu descrevo, que senti desde o dia um e carrego até sabe-se lá quando, o amor que me larga apoiada a beira do arno aos soluços de alegria, é um amor nar.ci.sis.ta.

não me leve a mal. francesco tem discurso e porte e olhos e carisma de protagonista e tudo que por ele senti (sinto) é genuíno, visceral e absolutamente entregue sem nem pensar. francesco é um cara por quem em escreveria todos os textos do mundo, alguém com quem desde sempre eu escolheria passar a vida, feliz.

francesco me traz tudo o que eu tenho de mais lindo.

bingo.

na sua ausência física, não precisei muito pra perceber, não há discurso e porte e olhos e carisma de protagonista. (des)encontrei um personagem fraco, acomodado, covarde. um personagem que ainda me traz tudo o que eu tenho de mais lindo.

o amor que entrego pra francesco é um amor que eu sinto por mim.

a esse ponto da vida, de uma como a minha, pelo menos, não há muito espaço para primeiras vezes. como já descrevi, existe o que possa parecer inédito, mesmo não sendo, mas primeiro, primeiro mesmo, é raro. de todas as coisas, uma em específico francesco me trouxe de novo: dele eu saí (saio) melhor que eu entrei. o dia que eu o conheci já era um dia especial, já era uma época melhor que a maioria, já era uma eu inteira. entrei bem. no dia que eu o deixei, e nas semanas que se seguiram, eu era muito maior.

meu espelho, minha escada. francesco fez questão de calar às chances de dizer me amava, mas me deu (e me permitiu que eu me desse) o que ninguém nunca fez.

por ele eu escreveria todos os textos do mundo, justamente porque eu sou quem escreveria todos os textos do mundo. porque ele me dá potência. eu amo no meu melhor, eu não quebro, eu ganho lugar pra sonhar, eu me conecto com as minhas paixões. ele dissipa, tudo fica.

é. sobre. mim.

pela manhã decidi apagar tudo. tomei cuidado. exportei os históricos, coloquei num hd. anotei seu número, guardei o papel dentro forro da mala quebrada. tudo que não é ponto de comunicação permanece. a partir de hoje, já tenho tudo o que preciso. francesco mora exclusivamente aqui.

exatos dez anos atrás vivi um amor platônico que na prática em nada se relaciona mas subjetivamente em tudo lembra o que vivo hoje. está tudo registrado, acho que sobre ele foi o que mais escrevi. constança me lembra, na sua opinião, que foi meu amor mais saudável, imagina, justamente o mais platônico deles, o nunca correspondido, mas que nunca nem me trincou. quebro a cabeça para entender o que relaciona paddy a francesco, além da óbvia questão geográfica. até agora só identifiquei a vontade de rabiscar tudo que aparecer na frente, a pele inclusive.

sinto que ambos ganharam esse clássico lugar de muso, de fonte pulsante de inspiração. um mais que o outro, é verdade, me saciava nessa própria potência, não me interessava correspondência, ele era destino mas a jornada que interessava era comigo. a conversa era comigo. o legado era meu. de ambos, no caso.

ainda não tenho quase nenhuma resposta, espero muito escrever. torço para muito escrever. não desisti de completar os espaços vazios, vasculhar as memórias para colorir as linhas ao redor dos olhos de francesco. um francesco que ainda nada tinha de fraco, acomodado e covarde. porque nada disso eu tenho.

(mais sobre paddy e as palavras parecidas com que eu descrevo o processo em mim)

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desfilles

I got fire in my brain. In my heart and veins. In between my legs.
(And now I'm back to writing.)

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By desfilles

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