(still under work)
saí do apartamento tropeçando no meu próprio sorriso derramado, celular em punho para registrar cada canto da escada, do corredor, do chão, de todo detalhe no caminho que eu precisasse lembrar – e a partir dali, eu já sabia, eu precisava lembrar de tudo. foi o portão bater, pesado, atrás de mim que eu me virei, estatelada, tentando digerir o que me tinha acontecido. andei até o meio da praça enquanto encarava a janela lateral de onde víamos a vista ainda há pouco. antes de procurar onde andavam os meninos, me gravei falando, na câmera frontal, bem ali: i feel really really in love.
não sei se por coincidência ou pelo tamanho de florença, rodolfo e ivan estavam num bar na mesma travessa da santa croce, do lado do fermino. corri pra lá na intenção de contar o que tinha acontecido e ao mesmo tempo tentar entender. cruzei a esquina ainda mais lotada que antes, o burburinho na rua como se a vida estivesse igual, ainda que a calçada e o parapeito cheio de copos abandonados acusassem que era tudo verdade. pedi um drink, que tomei enquanto os meninos tiravam foto da minha cara de boba e resolvi voltar pro hotel.
fiz questão de andar sozinha para conseguir respirar e tentar assimilar. não sabia bem o caminho, fui parar na piazza della signoria e sentei num degrau ali, bem no meio. a lua ainda estava cheia, como o rods alertou a viagem inteira que estaria quando chegássemos em florença, e já quase se escondia atrás da torre do palazzo vecchio. não sei quanto tempo fiquei, como se perguntando pras estátuas espalhadas na praça se elas já sabiam, se concebiam. se essas coisas acontecem assim, sem floreio nem invenção. rodolfo e ivan passaram pelo outro canto e não entenderam nada, riram e continuaram andando. ri de volta e me levantei, peguei uma reta na outra direção, através da uffizi, para seguir pela beira do arno.
era exatamente o mesmo trecho que percorri com elia nem 24 horas antes, mas parecia outro mundo. dentro de mim já era outro mundo. pela primeira vez na viagem, nos fones de ouvido, não coloquei renaissance (opa, o trocadilho!) da beyoncé pra tocar. escolhi florence (opa! outro!) & the machine e em nem duas estrofes eu estava chorando de soluçar. andava um pouco, parava, olhava em volta, a violência da correnteza do rio seguia casada com o atropelo do que me ocorreu. me apoiava na mureta e chorava. repetia, daí um pouco adiante, e ria sozinha. uma doida, uma tapada, uma puta duma sortuda. se alguém me contasse que esse dia existiu eu jamais acreditaria.
Looking up from underneath
Fractured moonlight on the sea
Reflections still look the same to me
As before I went under
And it’s peaceful in the deep
Cathedral where you cannot breathe
No need to pray, no need to speak
Now I am under all
And it’s breaking over me
A thousand miles down to the sea bed
Found the place to rest my head
Never let me go, never let me go