não sei por onde começar e por isso nunca começo. não sei em que língua escrever, pra quem escrever. tentei ontem e só consegui falar pra ele, com ele e obviamente em inglês mas, por outro lado, não sei. parece que não sai tudo, que não é natural, que dou mil voltas para dizer o óbvio e tudo o que eu consigo falar diretamente é: eu te amo. eu fico presa nessa declaração, em conflito por ser romântica e brega e iludida mas ao mesmo tempo sentindo essa onda louca de amor, sendo inteira amor, chorando porque um vento bateu na cara e estou viva, tão viva, posso passar por isso e aproveitar isso, eu achei que não mais, nunca mais iria.
eu teria que começar pelo começo.
não há como falar de francesco sem falar de elia. não há como falar de elia sem falar de daniele. a tríade de italianos que me traz até aqui me amarra um no outro e cada um dos anteriores tem um história completa e marcante por si.
daniele. roma.
elia. firenze.
francesco.
francesco.
eu.
sei bem que essa história de amor de sonho é um grande clássico, o clichê do casal hetero, mas uma parte de mim resiste em contar por esse viés (sim, óbvio que no fim contarei), mas existe uma história de amor paralela. minha.
a todo momento eu volto na cena, ele dormindo profundo, eu sentindo a onda de hormônios (dopamina, endorfinas, occitocina) pairando por tudo que sou eu, a pele com pele, a respiração casada, a sensação “estou onde sempre devia estar” e de súbito veio um impulso de destinar isso tudo pra mim. nunca senti isso antes.
tenho tido dificuldade em escrever porque sei que vou me rodear de clichês e lugares comuns e perdi o jeito. as analogias são sempre as mais óbvias, tudo parece ridículo, floreado.
mas. eu. tenho. que. registrar.
tentarei o fazer da forma mais objetiva e fluida que conseguir, não prometo. tentarei desenhar o retrato mais exato de tudo que aconteceu (aqui, quase escrevi “se traçou”, “se desenrolou”, me seguro.)
não sei se de fato vou tentar descrever tudo, algumas coisas acho que ficam guardadas e me constrangem, mas sei que vou lembrar ao revisitar o que contei e isso é suficiente.
farei uma lista.
o momento em que virei a esquina, através do camelô estacionado, e nos vimos.
a mesa.
o beijo.
a primeira vez que fui em casa, essa não me lembro. lembro pouco daquela primeira vez.
a pizza. =)
ali em algum momento eu me apaixonei perdidamente.
sei não porque lembro, mas por causa do video em que falo: i feel really really in love.
esse “i feel” é tão exato. ao longo desse tempo aprendi a identificar e descrever tão bem o que sinto que sabia, muito corretamente, que era uma sensação. imensa, poderosa, mas uma sensação. não dá para estar apaixonado assim tão de sopetão, mas dá sim ô, para se sentir. perdidamente apaixonada.
andando pra casa, ao longo do arno, chorei. desabei. de alegria, um tanto, mas não só isso. era uma pilha de emoções, uma intensidade tão arrebatadora, um susto em viver em uma noite o que não vivi em anos. viva. vivona.
ouvia florence e me debulhava. never let me go.
não lembro o que senti ao dormir.
ah, espera, antes disso. antes de tudo isso.
piazza michelangelo. muitos matches. tinha o menino lindinho que refugou, não lembro bem o nome. lapo. dei o print da foto dele e mandei pra ele mesmo.
it was wall for the very best.
francesco apareceu na tela e algo me chamou a atenção, não sei bem o que. provavelmente a primeira foto.
que. primeira. foto.
na sequência, mostro o celular para os meninos e falo “não é possível que esse homem tem só 31”. parecia mais velho. disso eu lembro muito bem.
francesco era um em mais de uma dezena, e o único que não tinha redes sociais. pediu o whatsapp e eu passei, na maior preguiça, porque é óbvio que dali não renderia.
fim de caso, next. elia.
mas como era a única rede dele e, isso eu tenho que perguntar (note to self: pergunte), ele provavelmente não falava também com mais de uma dezena, ele perseverou.
sei que acordei naquele dia pensando em elia. uma sensação conflitante que tanto aprendi nos últimos anos a ter, um pé atrás com uma vontade de me explicar, de me fazer conhecida, um fluxo de conversas imaginárias auto afirmativas – algo que francesco sim me traz mas em escala muito menor.
continuemos a lista:
a lágrima.
eu fingi que não vi. dei a minha melhor atuação, acredito que muito boa e convincente, fingi entretida em meus próprios sentimentos, abracei segurando sua cabeça no meu peito, para que outras pudessem cair com toda a liberdade e privacidade – nunca saberei se caíram.
mas eu vi aquela lágrima e ela me moveu em todo o resto. talvez seja o que restou a me mover até hoje.