essa voz tem som de casa.
eu nao lembro bem daonde
do que eu lembro
se era uma foto
uma sala escura, uma televisão e um casal refletido
lembro muito pouco.
também não sei porque
nao consegui explicar ou entender
ainda.
quase nada prende minha atenção
quase ninguém pega meu olhar
tudo me dá medo
medo.
quantas vezes eu falei?
isso me da paz.
paz. isso eu disse mais.
(fiquei até com medo de ser repetitiva.)
de você eu nao sei nada.
não sei nem mais de mim.
nao me sinto mais jovem.
nem linda.
nem cool.
muito. menos. cool.
mas dessa parte, eu me convenço. um pouco, pelo menos.
pra ser cool tem que se levar a sério.
deus me livre.
se não sou linda, dou meu jeito.
inventei que meu apelo é sensorial.
eu tenho treinado envelhecer, sabe.
e na solitude eu já estou letrada. sou feliz.
o problema é o que eu estou chamando de
a experiência.
esse espaço no meio. a fala sem fim. a pele.
é quase um sufoco.
um rasgo, um silêncio.
uma luz diferente, sei lá.
está tudo ótimo enquanto eu esqueço que isso existe.
mas ó. existe.
um trem que me alimenta.
um trem que me corrói.
e não vai me destruir. não.
eu me recuso.
de todas essas coisas
que não saem do pensamento
só me resta uma pergunta:
por que você não tira os óculos pra transar?