web analytics

quarta

q

acredita no vazio.

eu sabia que a quarta-feira ia chegar e o vazio ia voltar. a minha cama amanheceu na lotação máxima e isso não muda nada. eu passei a tarde, ofegante, ouvindo seus áudios no celular.

falta mais uma quarta-feira.

eu não sei bem como atravessar esses dias, cada um deles, sabendo que poderia estar tudo normal. poderia finalmente ser a gente, será que funcionaria? eu tento escrever porque eu tenho um batuque de dúvidas aqui dentro, eu não consigo articular nada e acabo voltando para as conversas que um dia tivemos.

nada faz sentido, mas eu acabo ofegante mais um pouco.

o carnaval foi fácil, difícil mesmo é o resto da vida.

o carnaval me mostra quem eu sou no meu melhor – e com todas as limitações, ainda no meu melhor.

a vida que eu encarei hoje eu ganhei sendo meu pior. o que custava, sabe, mais uma assinatura bem gasta de headspace, um malabarismo mais competente de contatinhos – o que mesmo seria suficiente para me segurar no lugar?

me trazer pra quarta-feira que deveria ter sido.

eu ouvi tanta coisa esses dias. tanto conselho, tanta opinião. a maioria das pessoas acha essa história toda bem boba. nem deu tempo. você era tanto pra ele. você é, lorena, se enxerga.

e quando eu enterro meus olhos no travesseiro eu acredito. você vai voltar.

acredito no vazio. por um segundo.

porque de dúvidas eu tenho todas. eu nem sei se deixei um buraco. eu não faço ideia se existe alguma pergunta do lado de lá. eu não sei de mais nada e, se pudesse apostar, eu diria que nunca mais te encontraria.

que você nunca revisitou os históricos, que nunca soltou esse mesmo grito abafado. volta.

eu repeti seu nome nem sei quantas vezes hoje.

eu sonhei que estávamos uma turma, sentados num gramado num dia de sol e eu pergunto se você me perdoou. você dá a risada mais gostosa do mundo e me dá um beijo. eu solto: graças a deus! todo mundo acha graça, bate palma.

(eu nem sei porque parei aqui)

escrever qualquer coisa – esse fluxo de pensamentos solto – é a única alternativa a encarar o teto, a pensar em tudo que foi dito – por nós e por todo mundo.

a pensar na quarta-feira.

me pediram pra te escrever uma carta. uma carta séria, de verdade, pedindo alguma resposta, algum feedback. é tudo o que eu mais queria mas eu sei que é o último recurso e eu sei que você jamais me responderia – e eu não quero jogar meu último recurso ao vento.

eu estou com TANTO medo da quarta-feira.

meu peito em nó, atravessando cada esquina. tomando drinks naquela esquina. indo dormir no endereço errado. sabendo que você está logo ali.

é tanto medo que eu congelei até pra digitar.

porque eu sei, no fim das contas, que não há o que eu fale que resolva, que conserte. porque eu nunca soube se o vazio ficou dividido – de cá tem um tanto, mas será que é só? porque se eu fosse tanto quanto falam, você não teria desistido.

porque talvez tudo isso só tenha existido de fato dentro de mim, já que não é possível que essas coisas morram assim, né?

e, enquanto eu posso, enquanto funciona, eu volto pros históricos, pras fotos, pros áudios. revisitar sua voz – que eu até tinha esquecido – repetindo tantas vezes o que eu nunca mais vou ouvir é a única coisa que cala as perguntas.

eu falo seu nome. ele é gigante no vazio.

About the author

desfilles

I got fire in my brain. In my heart and veins. In between my legs.
(And now I'm back to writing.)

Add comment

By desfilles

Your sidebar area is currently empty. Hurry up and add some widgets.