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eu tento não me mexer para não atrapalhar a ordem.

é tudo muito estranho, como as coisas se desenrolaram nesse mês. eu não consegui chorar. não cogitei me descabelar, não desisti da vida, quem olhasse de fora teve certeza que tudo estava normal. não me odiei – aliás, me surpreendi acordando todos os dias bem inteira. fui apresentada ao equilíbrio.

essa parte, é verdade, tem sido bem esquisita. a calma me protege, mas me é completamente estranha. eu quase fico com saudade dos altos e baixos, da emoção toda, para em seguida fazer as pazes com a própria paz.

as coisas seguem tranquilas.

tive tanto medo de voltar a são paulo sozinha. abrir a geladeira e encontrar a garrafa de champanhe intacta desde o fim de dezembro. a janela do outro lado da rua mostrando um vulto na sala acesa. a minha casa é a coisa mais gostosa do mundo e meu medo se transforma em encontro com amigos, muitas risadas e um dia de ressaca, feliz, esparramada no sofá vendo um seriado tão ruim que é bom. sem drama nenhum, me sinto quase blindada.

sim, blindada. involuntariamente criei uma casca, um cinismo que não se abala nem pelo bom nem pelo ruim. poderia ter sido um aprendizado, um processo longo e trabalhoso, cheio de méritos, mas não. eu nem sei como que eu mudei tanto assim, de um dia pro outro, e as vezes nem me reconheço. encarnei na pele de uma pessoa ~normal~, dona de uma vida sem grandes dramas nem emoções: trabalha, dá risada, encontra os amigos, dança, dorme tranquila.

até nas palavras, ao longo do mês, fui me calando. transferi meu tempo da escrita pra leitura. me escondi na vida de outras pessoas que ainda sofrem e vibram e navegam reviravoltas.

e o frio na barriga? nunca mais nem vi. a última vez eu nem lembro. mesmo com as noites que descrevi em outros posts e outras que nunca revelei, o dia seguinte é de uma apatia sem precedentes. às vezes tenho medo de ter perdido uma parte tão central de mim pra sempre. em seguida a calma vem e sussurra: – e se perdeu? tudo bem. você se reinventa. você é mais que isso.

aparentemente eu sou mais que tudo isso. mais do que meu mundo que desmoronou inteiro. falei tanto de primeiro de janeiro e, sim, é um marco. um dia para o qual eu volto e vejo que, apesar de nada daquela minha vida ter ficado de pé, ficou tudo muito bem. e eu, te contar, eu fiquei melhor.

e de tantas surpresas na tranquilidade, a maior delas foi, depois de um maio inteiro, acordar num primeiro de junho quase ao meio dia e reencontrar o frio na barriga dentro de mim.

here we go again.

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desfilles

I got fire in my brain. In my heart and veins. In between my legs.
(And now I'm back to writing.)

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By desfilles

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