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march 21st, 2011, desfilles.com.br

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(adendo do presente: eu amo amo amo amo amo esse post! é uma alegria enorme ter achado esse registro da minha percepção na época em que inhotim ainda nem existia na minha vida. ah, e eu nunca achei o velho da vela. não, não é caravaggio nem goya nem rembrandt. e se estava no prado alguém roubou.)

Estou planejando uma viagem de 10 dias para a Espanha que é a minha mais nova alegria. Faz tanto, tanto tempo que não viajo que pareço criança contando os dias pro aniversário (mesmo porque vai coincidir). Andei pesquisando – menos do que queria – sobre hotspots em Madri e Barcelona, na esperança de logo logo fazer com que essas dicas virem posts aqui  – mesmo porque acabei descobrindo que achamos toneladas de dicas de NYC e Paris nos blogs, mas cadê minhas cidades espanholas? Nada.

Numas dessas noites sem sono que têm aparecido diariamente pra mim, fiquei de olho arregalado encarando o teto e pensando na Espanha. O que eu não posso deixar de fazer nesses escassos 10 dias?

Não são compras, não são restaurantes ou balada. O que eu vi ali no meu teto, no escuro, foi Guernica.

Guernica é o único quadro icônico que eu idolatro mas ainda não vi ao vivo. Meus amigos sabem bem da minha tara por certos quadros, tanto que toda vez que um viaja eu ganho um cartão postal do próprio (thanks, Dani).

Durante a mesma noite de insônia parei pra pensar: por que eu sou a freak dos museus?

Tenho uma cultura de arte até bem da medíocre. Queria ser igual meu irmão que lê sobre Matisse e Henri-Cartier Bresson, mas vá lá, ainda não rolou. Tanto eu quando ele (duh!) viemos de uma família de pais médicos, tios engenheiros e avô administrador público. Arts don’t run in the family, I must say.

Da minha infância, lembro de poucas gravuras Volpi na parede (que um colega metido a besta resolveu cotar em plena festa de aniversário) e um livro do Magritte em cima da mesinha de centro (esse, me dava certo um certo pavor misturado com curiosidade enquanto criança – o que piorava muito dada a temática nu bizarro de algumas obras).

Eu nunca aprendi muito a fundo sobre o tema. O pouco que sei, foi nos meus semestres de design e esponjando em qualquer chance tive, principalmente através dos audioguides e plaquinhas explicativas. Muito coração aberto para se apaixonar por coisas lindas ou instigantes ajuda bastante.

Quando eu fiz treze anos meu avô me levou pra viajar. Meu avô não é exatamente do tipo culturalóide, mas é desse momento que eu lembro das primeiras refêrencias do que eu amo hoje. Minha avó poderia ter me levado à Chanel – se ela ao menos tivesse pisado em uma Chanel na vida – mas ela me levou ao Pompidou.

Desde sempre, meu entendimento é muito mais intuitivo do que teórico. É o medo de Magritte e o encanto com a bailarina de Degas – que eu vi numa visita ao MASP numa excursão de colégio (na verdade, fui descobrir anos depois, ela mora mesmo no Orsay).

É ter a minha avó comparando a Sagrada Família com os castelos que a gente fazia durante minha infância, em todas as férias, nas areias de Copacabana (sim, assim como os gringos e os travestis, eu também frequentei a praia de Copacabana) – é só misturar areia com muita água e ir, com as mãos, pingando gotinha por gotinha até montar cada torre (e eventualmente eu meu distraía e corria para brincar, deixando a obra igualmente inacabada). Torres de Gaudí.

É ver, na mesma época, as meninas de Renoir de rosa e azul, e falar “Mãe, eu quero o laço rosa”.

É entender, estudante sem grana na Europa, que Londres é cara mas os museus são de graça – e os áudio guides também! (E bora lá fazer compra no Tesco, encher a mochila de coca cola, ketchup, bolacha e chocolate, pra comer na National Gallery, depois dos Girassóis).

É sentir o orgulho do seu pai, na primeira visita ao Louvre já com 50 anos, ao te seguir pelas galerias por onde você anda como se fosse em casa (e meio que era).

É o salão de esculturas do Louvre à noite.

É lembrar de um quadro com um velho segurando uma vela – o jogo de luzes que é até hoje o mais incrível que já vi na vida! – numa parede secundária do Prado. Sem saber de quem é, de quando é, ou se vou encontrá-lo novamente. (É uma das metas dessa viagem!)

É entrar no Orsay, desavisada, e me deparar com papéis de presente e caixas de biscoitos amanteigados – só que de verdade.

As celebrities das artes plásticas. Madamme Tusseaud, pra quê?

É saber que os dias mais felizes da minha vida foram passados sentando na grama e andando de bicicleta em direção a um museu de uma cidade qualquer.

É sentir a luz do sol gelado cortando o domo do British Museum durante mais um piquenique.

É o jardim de esculturas do Rodin.

É ser criança e imaginar um templo de conto de fadas construído há muuuitos e muuuuitos anos à beira do mar na Grécia com uma deusa alada chamada Nike. Que acabou perdendo os braços no caminho dos séculos. (Essa história mexia muito com a minha cabeça.)

Se a moda me encanta hoje, é por causa da fita rosa da menina de Renoir. É por causa da luz nos cetins, veludos, bordados e brocados da realeza de Velázquez.

É porque eu sei que a Gisele pode ser esquálida hoje, mas a Vênus de Milo tem uma pancinha na qual eu me reconheço bem. E que tantas outras musas também carregam.

É olhar o azul cobalto que está aí em todas as coleções e pensar, Yves Klein. CMK, 0, 47, 167.

É se arrepiar só de lembrar que o vizinho de parede no MoMA do meu quadro preferido,

é o meu outro quadro preferido:

(MoMA, meu lugar preferido no mundo.)

É também a outra noite estrelada, aquela que eu ganhei com tanta saudade numa foto no celular. Um dos melhores presentes da minha vida.

É o amor eterno pelo azul e amarelo, e azul e amarelo, e sempre azul e amarelo de Van Gogh.

Se eu choro toda vez que vou dar oi pro Starry Night, é que ele também me canta a letra mais emocionante que existe:

now I understand

what you tried to say to me

how you suffered for your sanity

how you tried to set them free

they did not listen, they did not know how

perhaps they’ll listen now

for they could not love you

But still your love was true

And when no hope was left in sight

On that starry, starry night

You took your life, as lovers often do

But I could have told you, Vincent

This world was never meant for one

As beautiful as you

Lindeza a gente vê primeiro com o coração.

Guernica, me espera?

About the author

desfilles

I got fire in my brain. In my heart and veins. In between my legs.
(And now I'm back to writing.)

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By desfilles

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