pra falar de um amor que nasce eu preciso falar do que morreu. três meses me separam, com segurança, do furacão que passou pela minha vida. eu me dei esse tempo para recolher os cacos e juntar o que foi revirado, mas não despedaçou.
eu leio o que eu escrevi aqui em 2015 e consigo sentir de volta todo o desespero daquela noite de 9 de maio: “eu não aguento passar por aquilo de novo. eu não vou conseguir”
provavelmente não iria mesmo. o que me salva o suficiente pra acordar inteira nas manhãs seguintes é perceber que tem muito menos caco e que muito mais ficou de pé depois da ventania. o trabalho, a casa, a família, os amigos. ele foi embora, mas a minha vida tá aqui, inteira. ninguém mais leva tudo o que eu tenho não, pelo menos algo aprendi.
ainda é muito surreal quando lembro que, menos de uma semana antes do fim definitivo, havia um aniversário feliz, um mergulho em manly, jantares e flores. a mais completa falta de noção de que eram os últimos dias.
and then i all went poof – (sdds amy krouse rosenthal <3 )
não, não era perfeito. ultimamente, então, nada era. das milhões de vezes que já descrevi todo o processo (como, ironicamente, eu descrevia o início) eu sempre repetia: eu não ia desistir, eu ia perseverar, nada é perfeito.
eu tinha um foco, meu foco era o ‘pra sempre’ e ‘pra sempre’ nunca seria fácil.
então, já que todo o resto é leite derramado, vamos falar de pra sempre. o meu happily ever after não durou 3 meses. como, então, eu construo um pra sempre? eu vi em um ano e meio o maior amor do mundo virar rotina, ressentimento, preguiça. a história mais velha do universo, eu sei. mas, então, tenho que aceitar?
ele disse que não estava feliz. eu não acho que a gente tem que ser o tempo inteiro through the roof feliz e por isso mesmo talvez eu estivesse me contentando com menos. foco.
eu levava pra terapia e resolvia as minhas frustrações. eu continuava com foco no meu mantra de que nada é perfeito. passou até ex namorado pela frente e eu não desviei o olhar por um segundo,
mas não dependia só de mim.
quando acordei, atropelada, com sangue no nariz e olho inchado, gritando que não ia aguentar, eu acabei percebendo que, peraí, como seria se tudo desse certo? se tudo desse certo, mesmo.
eu, muito provavelmente, acabaria sozinha: velhinha, viúva (alô ibge), filhos crescidos, netos e bisnetos que visitam de vez em quando. ficar só, de certa forma, é o preço do final feliz.
por isso mesmo eu decidi que tenho que aprender a viver com a perda e a solidão. ressignificar essa vida que muda o tempo todo, não tem jeito. olhar pra frente.
logo ali em frente. consegue ver?