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two nights stand

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no dia seguinte eu dei um facestalkeada básica: achei vários posts fit (tenho preconceito) entre sucos verdes e fotos na academia, algumas frases de motivação. um pouco mais de scroll mostra uma ex namorada – igualmente fit, yogi e meditante – e uma adoração mútua muito alardeada em fotos e declarações. pelas minhas contas, acabou em janeiro. pelo que parece, era noivado quando acabou. não fica claro quem foi que desistiu. ambos parecem muito bem e os registros vão do amor eterno ao “essa pessoa nunca existiu” sem fase de transição.

vida que segue.

eu até adoraria encontrar o moço de novo, mas duvidava muito que poderia acontecer. incorporo com louvor o papel unattached, saio correndo o mais rápido possível, faço piada de tudo e deixo bem claro – o tempo todo – de que não espero nada.

contraditoriamente mandei a mensagem: i’ll be at omnia tonight.

vai que, né.

no fim do dia eu tava com bastante sono. balada sozinha? já fui. já deu. o celular treme e o relógio mostra a mensagem: i’ll meet you there around midnight.

boa hora pra power through.

o que a gente não faz para pegar alguém, não é mesmo? minhas perspectivas no brasil não eram nada boas: eu apaguei o dating app, eu estava no modo “odeio homens” e eu já sabia que logo logo voltaria a chorar pelo ex. o menino polonês com nome de menina era a personificação das minhas férias e eu tinha mais um dia.

em maio, na china, através de um desses apps eu conheci um suíço, também 36 anos. a história é meio parecida, era meu penúltimo dia e a gente ainda se encontrou no último. protegidos pela distância e pelo pouco tempo, não existe freio. é tudo lindo, é tudo romântico, as coisas acontecem numa terra estranha pros dois e aquilo permanece como uma boa memória mútua. dado o ano lixo que eu tive (principalmente se considerarmos até maio), aquilo significou, muito. eu tentei manter contato por alguns dias, a coisa esvaiu e a gente nunca mais se viu (ou vai se ver). as minhas expectativas estavam bem alinhadas para essa nova história.

que engraçado. se parar pra pensar bem, eles até se parecem fisicamente.

encontrei o polonês com nome de menina no terraço da balada gigante. estava meio sem graça, meio sóbria demais, meio sem assunto. ele veio com um sorriso enorme, cheio de papo e elogios.

é muito estranho perceber a imagem que você passa pra uma pessoa que você acabou de conhecer – e como ela difere da imagem que você tem na ~vida real~

era uma balada em vegas, era o cara gato que eu tinha conhecido na noite anterior, e em meia hora a gente estava num canto conversando sobre medos e planos e sonhos e traumas e essas coisas que a gente não fala todo dia.

ele era um estranho. eu sou uma estranha. ele mora lá do outro lado do mundo, e viajou trazendo motivos e problemas e expectativas. eu viajei levando meus motivos e problemas e expectativas. eu tenho tantas dúvidas, eu nunca mais achei que era boa o bastante, todo mundo me falando que eu perdi o brilho – essa é a minha bagagem. a bagagem dele eu ainda nem sabia, nem tinha parado pra pensar que existia.

(ele também nem teve tempo de parar pra pensar na minha. estranhos, né.)

mesmo assim, mesmo com toda a improbabilidade, ele falou justamente o que eu precisava ouvir. não sei se era verdade, não sei se era papo, eu só precisava ouvir. parece até, olha só, que eu sem querer também falei o que ele precisava ouvir.

olha aí os estranhos fazendo o trabalho direitinho.

e aí aconteceu o que acontece quando duas pessoas improváveis têm poucas horas num lugar meio mítico: elas fazem coisas que nunca fariam. elas mergulham nessa história de viver um filme e não fazer perguntas. elas criam uma intimidade que de tão falsa parece real. (talvez um dia eu descreva esse episódio com mais detalhes. não tô conseguindo)

eu fiquei pensando que talvez eu tenha perdido tudo, TUDO, para ganhar como prêmio de consolação a possibilidade de viver coisas assim. depois que fui embora, me calei pelo desespero de nada disso ser realidade. a vida real é outra coisa.

5 dias depois, quando eu chorava em posição fetal no tapete às três da manhã, resolvi abrir o computador e procurar o número de um centro de apoio qualquer. ele tava online.

eu sabia que a nossa história já tinha acabado e o quanto mais protegida no passado estivesse, melhor. mas eu precisava falar com alguém. já tinha fraquejado tanto mais cedo, o que custava dar um oi.

– desculpa, eu só preciso falar com alguém. são três da manhã aqui.

 

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desfilles

I got fire in my brain. In my heart and veins. In between my legs.
(And now I'm back to writing.)

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By desfilles

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