Eu tenho tentado ficar calada para não fazer grandes estragos, eu bem sei que os maiores estragos saem de horas tipo agora. Eu enfrento uma alternância de momentos de muito clareza com horas de um desespero torpe, um looping de pensamentos destrutivos.
Saber que iria acontecer não adiantou. Levantar no segundo que eu desliguei o telefone e andar até o cinema pra ver um filme divertido e sujar os dedos de manteiga da pipoca até calou o desespero por um tempo. Eu voltei pra casa de madrugada pensando: nossa, Lorena, olha só como você é forte. Você está à meia noite andando na paulista sozinha e você está feliz da vida. Amanha você vai acordar e produzir pra caramba. E ver suas amigas. E começar uma dieta. Vai cuidar de você, olha como você é linda.
O high de auto estima engana bastante.
Eu não quero falar para as pessoas DE NOVO que eu não consegui levantar da cama. Eu sinto um cansaço geral, uma incredulidade, uma decepção comigo que eu divido e me odeio. Me odeio. Essa gorda. Essa preguiçosa. Essa fracassada. Só sabe chorar.
Choro sentada no chão do chuveiro. Me arrumo, saio, choro de raiva no elevador.
Incapaz.
Como é que alguém vai acreditar que é mais forte que eu se nem eu acredito? Como eu vou acreditar que posso ficar livre disso se na primeira chance eu me deixo levar? Como eu vou trazer alguém pra minha vida se ninguém aguenta isso?
Ninguém quer alguém com a vida vazia. Nessas horas tudo eu que eu consigo é ver o vazio. Meu suicídio particular: dormir, dormir, dormir. Está tudo bem, não tem estrago, não tem luto, mas eu consigo fugir do desespero do vazio.
Eu parei de tomar os remédios. Eu fiz isso. Eu me odeio, sou uma burra, porque fiz isso de novo. Eu quis apostar que era forte sozinha, eu tava indo tão bem. Eu fui forte sem remédio nenhum por 26 anos, eu queria ser forte de novo. Eles me fazem mal, me fazem comer demais para remediar esse mal estar e eu queria muito não precisar deles.
Mas desabei.
Não sei muito como sair permanentemente disso, sinto de verdade que eu estou condenada, que isso vai atrapalhar minha vida definitivamente. Eu fico na eterna esperança que alguém vai apostar em mim, que eu vou me ver uma pessoa interessante através do outro e que isso vai gerar uma força que me move para fazer as coisas que eu não consigo. É o que aconteceu no ultimo mês. É o que acontece nas fases boas. Tem uns 3 anos que eu não consigo sair disso de outro jeito. E todas, todas as vezes eu voltei pra isso porque as pessoas simplesmente não aguentam esse fardo pra elas. Eu vejo depoimentos de pessoas que falam “não sei o que seria de mim sem fulano, ele sempre esteve do meu lado” e eu penso que eu só vi as pessoas indo embora o mais rápido que puderam.
Me arrependo de não ter conseguido de fato desistir, enquanto eu ainda estava forte. Eu tinha meus motivos e eu tive tanto orgulho por conseguir tomar a decisão de abrir mão de uma coisa que me parecia abusiva. Eu falei, em voz alta, mais de uma vez: eu preciso me proteger. Eu preciso evitar o estrago. Eu tinha conseguido tirar a energia que eu precisava daquilo e ainda me provar uma pessoa que tem força para desistir. Mas não. Eu tive que ficar, e apostar, e ver ele desistir. Ver que eu não sou tão legal assim. Que mesmo tendo energia, e vontade, e força, não sou o suficiente pra fazer alguém ficar.
Agora, pra coroar a situação inteira, tô aqui mostrando o tempo todo que não sou legal de forma alguma. Que tudo que é interessante sobre mim pode instantaneamente morrer. Que as pessoas estão bem certas de fugir enquanto elas podem.
Quem sou eu pra julgar? Se eu pudesse, eu fugiria. Tem tanta gente legal e bem resolvida no mundo.
Mas eu estou presa.
Eu queria poder fugir também. Eu vejo uma vida de infelicidade tomando forma e eu fico nessa espiral de tentativas fracassadas e decepção. Eu acho cruel com quem está à minha volta, a coisa mais cruel do mundo se eu desistir, mas será que é mesmo? Será que é tão mais cruel do que por anos ligar de madrugada pedindo ajuda? Por eu achar cruel, talvez eu ainda me ache um pouco importante pra alguém, sei lá. Eu queria ter forças pra desistir de tudo. Mas nem isso eu tenho.