Eu até tentei planejar essa conversa no pouco tempo que tive, mas não é um papo que eu queria ter nunca. Não há propósito, nem perspectiva de boas respostas. É a conversa mais chata do mundo. É necessária.
À tarde ficou mais fácil. Ou mais difícil, não sei dizer. A foto no celular deixou tudo mais real, mais urgente, impossível de fugir.
A foto me deu nojo.
Sim, eu sabia. É assim que funciona, a gente sabe. Mas o papo não tinha uma cara – errada – em uma foto de perfil tosca. Não tinha letras organizadas em frases vazias. Na minha cabeça essas conversas tinham que ser absolutamente irresistíveis. Ou inexistentes, melhor. Inexistentes.
Revisitei os meus chats. Lembrei da amiga que me chama de grossa: Encontrei um sem número de perguntas não respondidas. Janelas nunca abertas. Um mar de desinteresse, todo meu.
Mais tarde, falei da foto. Não falei do nojo, nem consegui articular tudo o que isso me trouxe, mas falei: era preciso. E ouvi:
– não tenho o que falar. Você sabia.
(…) não sei se quero, quando quero, com quem eu quero.
(…) estou apaixonado? Não.
Qual o propósito? Onde isso me coloca? Vou me manter num troço que traga pra minha cabeça o mantra are we there yet? Are you there yet?
Que numa terça à tarde eu abra o aplicativo e o visualize encantando alguém que fala que sua cerveja preferida é Stella Artois? (Mesmo?)
Que eu pergunte: oi, como foi ontem? Sabendo que a resposta poderia ser: então, ontem a gente saiu e eu levei ela pra casa e foi ok.
Aquele dia eu não dormi nem um segundo. Me espremi no canto da cama, para não ter nem que encostar. Pensei, em looping:
– você pega todos esses elogios, tudo de bom que você tem sentido e leva. É seu. Às 4 e meia você vai levantar e tudo bem se acabou, porque nunca nem começou. Mal existiu. Você não pertence a esse pool.
That’s what a – yet another – breakup feels like.
4 horas. Levantei, anestesiada. Evito olhar pro lado, pego minhas coisas. Estou fugindo de tudo, tô fugindo da minha própria casa.
Na pratica, o que muda? Ainda não decidi. Dormi os dois últimos dias pensando no desenrolar concreto do que eu decidi, e ainda vou decidir.
A gente pode ser amigo, eu o teria como amigo. Eu até o teria vindo de tempos em tempos em casa, é uma opção. O segredo, agora, é esvaziar tudo o que eu sentia. Pensando na foto fica bem mais possível.
Podia ter sido incrível, poderia de verdade ter virado algo animal. Mas no desafio, eu fujo. Eu já perdi brigando por tanta coisa real, não vou brigar por algo irreal. Não é minha briga.
No high de auto estima, me pergunto: quem não se apaixonaria? Quem é você que não se apaixonou?
Ele contou da moça – com nome e sobrenome – que o fez chorar em bem menos dates e o quanto é a primeira vez desde então que ele sai tanto com alguém e eu só consigo pensar no não.
Só consigo pensar por que eu nem ligo pros moços apaixonado, e que deveria. O próximo vai estar perdidamente apaixonado. Ô. Se. Vai.
E disso, o que fica? Fica o never <3 quando eu falei que não sabia quando ia embora. Fica ele bêbado deitado na minha cama perguntando o nome dos nossos filhos e falando que ia, sim, contar para eles que conheceu a mãe num dating app. Fica ele dançando na balada louca, e me abraçando forte quando eu chorei. Fica a vez que ele me zoou com mil elogios logo antes de pegar no sono – e eu dormi no abraço mais feliz do mundo. Fica a gente andando pela rua no último dia.
As memórias ficam. Tudo bem.
E fica a capacidade de me apaixonar.