Seus amigos – um dia nossos – que sobraram na minha timeline deixam um rastro do que podia ter sido. Eles mudaram de país, ela está grávida. Ela posta para todos os continentes o amor que sente por ele. Eu fico pensando se você foi à despedida, se você ainda esbraveja que eles estão numa crise irremediável, como fez no dia que eu chorei por motivo algum – ou por achar que todo mundo era feliz, menos eu. Eles nunca tiveram um fim. Ela está grávida e eles largaram tudo, menos um ao outro.
Você achava tudo frágil e você achava a gente forte. Ontem, voltando pra casa, eu escutei aquela música “Home” do Philip Phillips e lembrei o quanto ela era a sua música, a música da Luciana, a música de quem era meu alicerce, minha família, tudo o que eu tinha. Eu quase nunca choro, mas nessas horas eu ainda choro um pouquinho.
Eu estou reconstruindo tudo, ao menos. Eu tenho tido chances de ter minha vida de volta. As pessoas perguntam: e esse menino? e esse emprego? Eu respondo: é a minha vida de volta. Imagina só, eu nem quero muito, eu nem quero mais, eu só quero a vida que um dia eu tive e que escorreu pelos meus dedos enquanto eu não conseguia levantar de manhã.
Tenho amiga que nunca te conheceu e ela pergunta: como ele era?
O que eu respondo? Que eu não consigo ter raiva. Que ele desistiu, ele tinha motivos. Talvez ele estivesse certo. Não, eu não concordo, não era pra desistir. Era um desajuste, uma fase ruim, sempre vai ser só isso pra mim. E ele era o cara mais legal do mundo. Todo mundo gostava dele. Ele era correto, ele era justo e ele desistiu.
Há quem afirme que eu finalmente segui em frente. Eu não te ligo mais, eu não tenho mais motivos. Eu ensaiei me apaixonar e concluí que até conseguiria, eu ainda consigo. Ainda vive em mim um frio na barriga, uma capacidade de perder o sono, de dar donos para as músicas e de dormir abraçado. Eu não morri, enfim.
A minha amiga perdeu um filho. Você nem a conheceu e foi bem nessa época: ela ficou grávida, festejou, descobriu que era menina, escolheu nome, fez o quartinho e enxoval. Entrou em trabalho de parto. E voltou pra casa com o marido, sozinhos.
Falando sobre isso ela reconheceu: vai fazer tudo de novo e vai ser ainda mais feliz. Vai amar mais ainda. Mas vai carregar aquele bebê que nunca foi pra casa para o resto da vida. Lembrei de você.
Eu vou amar mais ainda. Eu vou ser mais feliz. Eu vou te carregar, desse jeito, para sempre.
Mas essas são as coisas que a gente não pode falar, nunca, para ninguém.