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Don’t ask, don’t tell

D

Se for pra ser bem sincera, mesmo, eu admitiria que o primeiro date foi um desastre. O papo que estava solto há semanas travou. Me peguei olhando pros lados de 5 em 5 minutos. Li todos os quadros do restaurante. Fiz comentários padrão sobre o hambúrguer.

Já não é raro me sentir uma repórter quando saio com alguém. Eu pergunto, quero saber. Entrevisto. Como, quando, onde e por que não deixam o assunto morrer. Mas cansa.

Ele entrou dentro de casa e meu desconforto desapareceu. A gente começou a rir, a conversa inicial recuperou o ritmo. Às vezes ele soltava: – estou falando demais, fala de você.

Mas, desse jeito solto, eu falo o que?

Não falei. Duas semanas adentro e eu percebo que esse cara não sabe absolutamente nada sobre mim. A gente conversa do meu trabalho, ele solta um ou dois elogios e a gente volta a discorrer longamente sobre a sua vida.

Percebi. Comecei a pincelar uma ou outra coisa no meio da conversa. Nada. Um olhar vazio direcionado pra fora do carro, uma distração levada pela mesa do lado. Nem um como, nem um onde, nem um por que.

Red flag.

É um padrão: no início o cara sempre fica meio babão. Na sequência eu me apaixono e as coisas ficam tensas, secas. Tenho começado a relacionar um problema ao outro.

Tenho me visto bem aí nessa fase.

Tudo de repente me parece um tanto frágil. Não seria impensável se ele parasse de ligar. Faria sentido até.

E eu fico aqui me perguntando por que raios me encantei por um cara que não quer saber nada de mim. Um cara que – vem parecendo – se apaixonou tanto por si próprio que se estende em descrições que eu – também apaixonada – insisto em pedir.

Do nada, o ajuste virou desajuste. O conforto virou tensão.

Eu sigo calada.

 

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desfilles

I got fire in my brain. In my heart and veins. In between my legs.
(And now I'm back to writing.)

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By desfilles

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