foi surpreendentemente fácil botar a engrenagem para rodar.
o pânico do feriado passou quando eu encaixei um date por dia. eu poderia passar o dia todo dormindo ou vendo tv, mas à noite teria algo que me tiraria de casa. na sexta a preguiça bateu, eu dei bolo no date e fui ter uma dr à base de hamburguer com o moço que tira meu sono.
nesse meio tempo eu stalkeei tudo o que podia do moço loirinho: instagram, a matéria no g1, o spotify. ele não parecia lá tão animado com o date que marcou pro domingo, mas ao longo dos dias começou a me procurar com cada vez mais frequencia. no sábado, pediu para adiantar e sugeriu meu bar preferido da vida.
não demorou pra eu perceber que moço loirinho é um cara perfeitinho: a música que toca no carro, a jaqueta de couro que parece feita especialmente para ele, os assuntos, o sorriso aberto, o lugar em que escolhe ir… tudo parece nunca ter visto um defeito na vida. ele conta da família espalhada pelo mundo, da viagem para israel, da paixão por negronis, festivais de música e tiramisus. fala dos planos de sair do país – o que me protege e me distancia e é bom.
foi o tipo de date incrível, mas que não me tira da indiferença. eu nem tava lembrando do cara quando ele me chamou, no dia seguinte, pra sair de novo. two days in a row. eu fico me perguntando o que é que o moço perfeito quer comigo, com esse sorriso aberto e essa cara de bom menino. eu pago pra ver até as 2 da manhã.
mocinho perfeito poderia concorrer ao posto de pessoa mais cheirosa do mundo. o perfume dele ficou marcado na fronha em que eu durmo numa tarde preguiçosa enquanto eu via o seriado cujo narrador é assustadoramente parecido com ele.
junto com o moço tatuado, ele resolveu o problema das saídas, dos apps, de tudo. vou dando like em quem gosto de verdade – um ou dois por dia, no máximo – vou conversando com calma e por enquanto me blindei, assim, de dates horrorosos. se tivesse o outro moço, a teoria da distração estaria completa com louvor: três caras interessantes – dois teoricamente muito parecidos, mas completamente diferentes na realidade – com qualidades complementares que me divertem e deixam a vida mais leve.
mas o terceiro, ele resiste. mantém distância, se enche de desculpas, não escuta muito minhas justificativas de que agora está tudo bem. se recusa a entrar na engrenagem, logo o cara que me colocou tão bem na dele. me dá raiva, muita raiva. deixa a lacuna para mais um desavisado que quiser vir me distrair.
