Você vai viajar. Recebo a mensagem logo que acordo e tudo dói.
Eu já viajei tantas vezes, mas dói. Um abandono repetido que grita: você vai, eu fico.
(Na viagem e na vida.)
Tenho tentado ser mais verdadeira comigo.
Já faz quase seis meses e fica mais fácil, não menos dolorido.
Perdi meu jeito com as palavras, calei por mais de mês.
Agora balbucio um texto ruim.
Sou uma pessoa mais séria, menos feliz.
Foco nos negócios.
Conto pra analista que comer é meu único prazer.
Lido com os moços com uma distância segura: saio, bebo, vou embora antes do amanhecer.
(Parei de procurar desde que te vi sorridente no dating site.)
Visito nossos lugares, te vejo por todos os cantos.
Vou ao nosso museu pra resgatá-lo como meu.
A amiga fala que vai tudo mudar, que eu vou me apaixonar perdidamente e eu dou risada, sei que é impossível.
Vou ser esse ser solitário, carregando uma dor crônica com a destreza do costume.
A amiga se apaixonou de novo. Está feliz.
Penso secretamente que eu ainda sofro porque meu amor é maior.
Tudo é notícia velha. Derrubo um choro escondido no aeroporto de chão quadriculado.
Nessa vida eu sou um fantasma paralisado na multidão do saguão enquanto meu corpo atravessa o portão de embarque.