tudo mudou.
a amiga fala no almoço de domingo: você está vencendo.
será?
passei uns dois dias sem chorar. passo horas sem pensar nele. programo dates, me arrumo, passo maquiagem.
tenho uma vida quase normal.
dou risada. cozinho. ando a pé pelo bairro.
aprendi a correr.
tenho tido vontade de escrever outras coisas e descrever outras pessoas. tenho me perdido em outros endereços, cheiros e olhares.
não que dê em nada não.
meu amor fica guardado. escondido, quase sufocado, mas existente. decidimos não nos falar.
repito o mantra: distancia. tempo. separação.
repito o mantra na esteira. dormindo. dominando pincéis.
numa sexta à noite eu não repito nada diante dos óculos. aqueles óculos de aro grosso, que se apoiam num nariz perfeitamente torto e escondem os olhos mais verdes da minha vida.
a dor dá uma brecha. eu ando de mãos dadas na avenida e divido a pipoca do cinema. revisito o desconforto de assistir a um filme abraçada na poltrona, troco beijos dentro do taxi.
termino a noite bêbada, sem mantra nem pudor.
o pouco que a dor foge eu aproveito. me sinto viva, até um pouco linda. me sinto protegida pelo meu próprio sofrimento, blindada de uma desilusão qualquer.
relaxo e durmo abraçada. pernas entrelaçadas e um sorriso escondido na fronha.
não que tivesse ninguém acordado aquela hora, mas se estivesse teria me visto feliz.