web analytics

ground control to major tom

g

o ano virou. a viagem perfeita que eu planejei em cinco dias para substituir a nossa viagem perfeita está acabando. já faz quase um mês que você virou cheiro de guardado na minha vida e eu tenho que achar um jeito de seguir em frente.

ainda não sei bem como.

inventei que não iria falar de você. falar com você. pronunciar seu nome de forma alguma. meu inconsciente não concordou muito, tem sido teimoso e eu não tenho tido tanta força de vontade como deveria.

você está a seis horas de fuso de distância e mesmo assim consegue estar em todo lugar.

eu não tenho conseguido sair e aproveitar muito. quando me forço, acabo abraçada a um marmanjo chorando, enquanto ele me consola. “it’s ok. breakups are hard.” no quarto do hotel pra distrair, vou limpar o computador, organizar a vida.

na caixa de spam um email seu do finzinho de novembro com a trilha de um dos últimos filmes que vimos juntos.

eu poderia ter falado que segurei o choro o dia inteiro para soltar logo agora, com esse email, mas é mentira. vou fazer xixi e choro. tomo banho e choro. vejo a foto do seu sobrinho e choro. do namoro feliz do seu irmão e choro. que coisa, a gente era tão infinitamente mais legal que eles e justo a gente não existe mais.

foi você que me falou: ‘”não tem mais a gente”

eu tenho tido dificuldade de escrever. fui resgatar os dois textos que escrevi para você, lá quando a gente se conheceu. como eu escrevia bonito. como eu acreditava em mim. onde que foi isso tudo parar? nem meu medo me impediu de me deixar sofrer tanto de novo.

tentei ler outras coisas. tentei ver fotos e escritos de namoros antigos, para lembrar o quanto passa.

sabe o que é, eu não quero que você passe. eu quero que você fique no seu lugar, vendo tv enquanto eu canto na cozinha o trecho da música do bowie que não sai da minha cabeça. eu quero que quando eu voltar e sentar do seu lado, você me puxe pro seu ombro – o lugar mais seguro do mundo.

quando a ventania passou, levou teto, levou cobertor, levou ombro, levou tudo. o lugar mais seguro do mundo continua em pé, tem endereço e sobrenome, mas não pode mais existir no meu mundo. eu tenho que ver a minha casa andando por aí enquanto a minha vida fica descoberta.

ontem, quando deu meia noite, as pessoas se abraçaram. novos e velhos amigos me abraçaram. enquanto eles continuavam, eu olhei pro céu. lá do outro lado ainda era dia, ainda era seis da tarde de um ano ao qual pertencemos. mesmo que rapidinho, você tinha ficado para trás num mundo que ainda era nosso, que coisa.

e aí um moço me cutucou, perguntou se eu era eu e puxou papo. naquela hora eu vi o quanto isso simbolizava a ironia da vida. eu olhando pro céu, chorando por você, escondendo as lágrimas e me distraindo num papo furado. trilha sonora, quadro aberto and fade out.

About the author

desfilles

I got fire in my brain. In my heart and veins. In between my legs.
(And now I'm back to writing.)

Add comment

By desfilles

Your sidebar area is currently empty. Hurry up and add some widgets.